Quatro anos de amor em estado líquido

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Há quatro anos que amamento as minhas crias. Há quatro anos completos que faço contacto pele-a-pele com os miúdos.

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Tudo começou na preparação para o parto. As aulas dadas pela Enf. Cristina, amorosa e com muito amor no seu olhar tocaram-me de forma especial. Falara-me da sua experiência com o filho que, na altura, ainda o amamentava com três anos. Confesso que na altura me passava pela cabeça “mas aos três anos? E tem leite? O miúdo ainda acorda de noite de três em três horas?” Inocente que eu era na altura. Mas a segurança que a Enf. Cristina passava e a felicidade com que ensinava todos os truques  a todas aquelas grávidas, fazia-me acreditar que valeria a pena.

No nascimento do P, após a cesariana à qual fui submetida, o P foi-me colocado em cima do meu regaço e imediatamente se acalmou. Aí senti o poder da maternidade. Como era possível, eu que nunca tinha pegado num bebé para o acalmar e adormecer, consegui que aquele pequenino bebé que fora arrancado da minha barriga e quando chega aos meus braços, miraculosamente, se acalma e faz do pai um chorão e de mim uma tentativa falhada de ser forte. Ainda não o tinha amamentado e, na altura, nada disso me passava pela cabeça.

O P, nasceu bem e gordinho. Estava sereno nos meus braços e dirigiram-nos para o quarto. A nossa família aguardava ansiosamente a chegada do bebé (a minha era secundária 🙂 ). Para o meu lado da família era o primeiro neto e bisneto. E há 19 anos que não havia bebés.

Quando entramos, uma excelente enfermeira do Hospital CUF Porto que me acompanhou no puerpério, após perguntar se eu estava bem, pergunta se eu tenho intenção de amamentar. Aí caiu-me a ficha. Atordoada pela anestesia, digo a olhar para o miúdo minúsculo que tinha ao meu colo. “O que é melhor para ele?”. A Enf. responde: “Para ele é melhor o leite da mãe. Somos mamíferos. Temos de mamar do leite da nossa mãe.”. E aí começamos toda a aventura da amamentação.

Foi difícil no início. A descida do leite (ou subida) foi tardia, tive algumas gretas e até cheguei a fazer horários de mamada. Erros atrás de erros, na pega, nos timings, no cansaço e na irritabilidade.

Só consegui amamentar o P, porque sou teimosa, reconheço.

Sou teimosa e queria provar a minha capacidade de gerar, reproduzir e aleitar. Confirmo a teoria.

A minha mãe, tia, sogra, prima, tia da prima da sobrinha, a empregada da limpeza e a tia da mãe que era enfermeira não tinham tido leite. Diziam-me. É normal não ter leite. Repetiam-me.

Causaram-me uma raiva interior tão grande, tão grande, mas tão grande, que disse: “OK. Podem dar ao miúdo suplemento para ver se ele toma”. Bebeu os 30 mL de rajada, mas mal o colocam de pé, ele bolça todo o leite que tinha tomado. Desistiram da ideia naquele dia do suplemento.

Comecei nesse dia a pesquisar sobre a amamentação. Encontrei a Filipa e começamos a falar. Ela tinha tido a bebé dela também por volta da mesma altura e falou-me da livre demanda. Foi remédio santo e continuamos em exclusividade até aos 6 meses. Desmamou naturalmente aos 24 meses, quando estava grávida do M.

Com o M nada disto se passou. À minha volta, já não havia perguntas nem opiniões. Toda a gente acreditava na minha capacidade leiteira. Aliás, a única coisa que me diziam era “tens muita sorte. nem toda a gente tem leite como tu”. Dizia que não era sorte, mas persistência, mas há cabeças que devido aos dogmas e idade já não se mudam.

No parto, ia já com diretrizes. Queria que o bebé mamasse na primeira hora de vida, queria dormir com ele e queria fazer o máximo de contacto de pele-com-pele. Tudo foi cumprido e ninguém pôs objeções ao que pedi. Nem mesmo quando pedi ao meu médico para ver a minha placenta.

Fico mesmo transtornada quando me dizem que nos hospitais privados não dão assistência na amamentação. No que me diz respeito, só tenho a dizer bem do hospital que escolhi para ter os meus filhos.

Amamento o M desde o nascimento e não vejo sinais de desmame. Já não adormece a mamar nem mama durante o dia, mas ainda pede mimi quando se magoa ou quando está irritado. Diz que não quando pergunto se gosta da mamã, mas se pergunto pelas mimis, ele diz logo “sim, sim”.

Há dias que me apetecia dormir mais descansada, há outros que me apetecia jantar em paz e ainda outros que gostava de passar a noite fora com o meu marido sem peso na consciência. Mas não me arrependi um segundo de ainda hoje o amamentar.

Há quatro anos que lhes dou o melhor de mim para eles. O meu leite. O verdadeiro leite adaptado para as necessidades deles.

Bea

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