Lembrei-me de escrever sobre este tema numa conversa telefónica com um amigo que ainda não tem filhos. Não sei porque é que as pessoas que não têm filhos fazem julgamentos instantâneos sobre a vida e os filhos dos outros – é a chamada santa ignorância.
Conversávamos sobre a minha ausência de casa durante o período pós-jantar para umas reuniões de alguns projetos que faço parte e na qual surgiu a típica pergunta:
Onde ficam os teus filhos?
Estão a imaginar como ficou a minha cara do outro lado da linha do telefone não é? #bitchface
Ora muito bem, depois daquele meu silêncio mórbido que fez com que o interlocutor perguntasse ” ‘tas aí? “, tive necessidade de responder de uma forma irónica e muito segmentada para que aquele ser nunca mais colocasse as coisas daquele jeito a uma mulher. Porque tenho a certeza que se fosse a um pai, essa pergunta nunca teria saído da boca para fora.
Primeiro: os meus filhos foram feitos com um ser humano, do sexo masculino, que durante um ato demonstrativo de amor e carinho fez questão de me emprenhar. Logo, como foram feitos a dois com total respeito e consciência, são responsabilidade partilhada de duas pessoas.
Segundo: as pessoas responsáveis pelos miúdos, já eram pessoas antes de serem pais. Já eram namorados antes de serem pais. Já eram uma mulher e um homem antes de serem pais. E essas necessidades individuais têm de ser respeitadas. É certo que cá em casa eu tenho mais projetos e por consequência mais necessidades pessoais que o Pedro, mas desde que o casal se entenda e que estabeleça a sua dinâmica, está tudo ok.
Terceiro: é bom para os miúdos (claro que não estou a falar de bebés, ok?) saberem conviver com outras pessoas para além da mãe. Eu, enquanto mãe, quero transmitir aos meus filhos que mesmo que não esteja com eles, gosto muito deles e que está tudo bem estando na escola, com o pai ou com os avós.
Por último há dias que me custa imenso sair de casa para ir para uma reunião chata que sei que me vou chatear e que em casa podia brincar e dormir. Mas também quero mostrar-lhes que para se conseguir algo é preciso lutar, batalhar e sacrificar-se. E muitas dessas vezes o algo é comunitário e não pessoal, como por exemplo o trabalho associativo e social.
Não obtive qualquer reação à minha resposta e tratou de mudar logo de assunto.
Não adianta andarmos a tentar mudar as leis se não mudarmos a forma de pensar.
Não adianta falarmos de parentalidades positivas e conscientes se não cultivarmos na sociedade conceitos básicos como a igualdade parental de direitos e deveres.
Não adianta falarmos em equilibrio parental se não há um equilibrio conjugal.
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