Todos os dias me fala no “piso superior”. Todos os dias me fala na “escola primária”, nas letras e nos números que vai aprender. Todos os dias me pergunta quando é que vai poder mudar-se para a escola a sério.
Confesso que estou com medo. Em primeiro lugar, estou com medo desta ansiedade. Estou com medo que apanhe uma frustração quando perceber que é muito mais divertido ficar na pré-escola. Em segundo, estou com medo que não desfrute o suficiente das brincadeiras, dos recortes e das pinturas que ainda tem para fazer apenas porque quer que o tempo passe demasiado depressa.
Estou apavorada por não saber se ele é capaz de estar concentrado nas aulas. Estou apavorada por não ter a certeza de que ele será realizado. Já o disse aqui que não me importo se ele não for um aluno brilhante. Sinceramente, neste momento é o que menos me importa.
Interessa-me sim, saber se ele é feliz. Já pensei em várias soluções e alternativas e aquilo que mais me custa nesta minha aventura da maternidade é que nunca tenho a certeza de nada. E isso irrita-me. Já pensei em mudá-lo de escola para o ano. Já pensei em promover junto do colégio que ele anda a pedagogia Montessori. Já pensei em fazer homeschooling (ou ensino doméstico). Já pensei tanto que até acho que já suicidei algumas sinapses.
E que tal um ano sabático entre a pré-escola e a primária?
Eu não sei se esta proposta louca pode ser possível em termos legais, mas resolvi arriscar em escrevê-la. Quem me conhece sabe que eu sou assim: um misto de loucura, impulsividade e lógica. Queria muito que o meu filho (e por consequência eu) fizesse um ano sabático entre a pré-escola e a primária. Quando fomos a Lisboa – só os dois – percebi a necessidade dele de me ter mais tempo e notei a sua constante atenção ao que o rodeava. Nunca mais se esqueceu da cor da linha do metro que apanhamos para ir para o Aeroporto, nem nunca mais se esqueceu dos Tios Carlos e Marília. Isso vem provar que ele aprende muito mais a mexer e a fazer do que a “decorar”.
Sinto que ele aprenderá muito a ver-me a fazer as compras. A contar e recontar o dinheiro para pagar e a fazer trocos. Acho que ele aprenderá a ver a mungir as vacas e a saltar nas poças da chuva. E como podemos dizer que a chuva, quando está muito frio se transforma em neve, se ele nunca a viu? Como podemos dizer que o sol ajuda as plantas a crescerem se ele nunca viu uma planta a germinar, a crescer e a florescer?
Sinto que ele ainda é uma criança e que tem tanto tempo para o deixar de ser.
Se o GapYear tem sentido entre o Ensino Secundário e o Ensino Superior, com motivações diferentes é certo (viajar, voluntariado, entre outros…) porque este GapYearMini não tem mais importância? É que é possível, neste pequeno mas grande ano, aproveitar o bom da infância: a curiosidade, a percepção e a descoberta para se vir a tornar um ser humano mais atento, mais pro-ativo e mais contributivo para a sociedade!
E continuo com medo. Com medo que ele se sinta perdido cá em casa sozinho comigo. Que eu me arrependa desta decisão. Ou até… que me arrependa se não o fizer.
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