Todo o universo cibernáutico gargalhou destas palavras (bela, recatada e do lar). Portugal em peso ria da bobagem que a primeira-dama Temer dizia dela própria numa revista tipo “Maria” do Brasil. Mal sabíamos nós que, passado pouco mais de um ano, o cuspe nos caía da maneira mais vergonhosa que existe – na justiça. País que achávamos super evoluído, o nosso, que aprova leis como a da gestação de substituição ou o casamento homossexual, vinha a ter um juiz que iria, numa sentença, recorrer à lei da Bíblia e claro, fazer julgamento de carácter e moral de uma mulher adúltera.
Claro que eu não estou a defender o adultério (calma, maltinha, calma) que acho até reprovável – porque até quem está mal, muda-se; mas urge saber: estamos num país que condena toda a forma de violencia, ou não? É “natural” bater numa mulher? Seja ela adúltera ou não? É justificável um juiz usar a palavra de Deus para justificar as suas decisões? Mas o estado é laico ou não?
Em relação ao laicismo do estado um amigo meu, padre, escreveu o seguinte: “Por favor, não envergonhem aqueles que, como eu, têm na Sagrada Escritura um guia de inspiração para o amor. E já agora, sou eu cristão e sou eu padre que vos peço: por favor, «a César o que é de César e a Deus o que é de Deus». Respeitemos também aqui a laicidade do Direito, para não andarmos a invocar o santo nome de Deus em vão. Não há na legislação e nos códigos de ética fundamentação bastante? Se alguma vez se lembrarem de recorrer à Bíblia, façam-no, noutro âmbito…” (Amaro Gonçalo, Pe) E concordo em absoluto com ele!
Estamos em 2017, a violência doméstica é crime público em Portugal. São agredidas, a cada dia, em média 15 mulheres por dia nas mãos de um companheiro ou antigos namorados. Estas ações acabam por legitimar todas as formas de violência contras as mulheres. Violência contras as mulheres é crime, assim como o é o machismo. Mas quando temos um português, magistrado, que tem com certeza em mãos casos importantes e de difícil juízo, decidir e argumentar da forma como o fez, ostracizando e salientando a dicotomia de género entre homens e mulheres, não nos poderemos portanto espantar quando qualquer ser comum se manifeste e pense desta forma!
Quero querer que o mundo que deixo aos meus filhos, seja mais justo e mais igual para todos os géneros. O que verdadeiramente importa é o respeito e a felicidade.
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