Sexta-feira, 9 de Fevereiro de 2018
A sala está composta: entro e sento-me mas rapidamente dou o meu lugar a uma senhora que tinha seguramente o triplo da minha idade. Vejo que naquela sala, ao contrário das outras alas daquele hospital privado, as paredes têm quadros do elemento da vida: a água. Mares, rios e riachos foram propositadamente pendurados ali. Vejo mulheres a assumir a sua cabeça desnuda, casais de mãos cerradas e famílias inteiras enlutadas.
Cheguei sozinha com o pensamento e a consciência que apenas estava naquela sala por uma coisa boa: a minha saúde. Felizmente, não estava naquela sala pelos mesmos motivos de tantos outros. Fiz a minha consulta de rotina normal e regressei à sala para esperar pela enfermeira para a usual análise sanguínea. Já todos tinham saído: uns para tratamento, outros para consultas. Apenas ficaram duas mulheres de meia idade. Juntas e a chorar.
Retirei o maço de lenços que tinha na mochila e fui entregar-lhes para que pudessem enxugar as lágrimas. Uma agradeceu baixinho e pegou nos lenços. Desejou-me boa sorte – porque naquele local a sorte e o fado são alguns dos ingredientes necessários à vida.
Retirei-me e nunca mais deixei de pensar na dor daquelas duas mulheres. A chorar por um irmão.
Sexta-feira, 23 de Fevereiro de 2018
A sala está vazia e sem esperança. Chego sozinha mas rapidamente fico completa. Fico com certezas e quase sem dúvidas. Todas aquelas placas do segundo piso do hospital deixam de ser fardo pesado para os meus ombros e sinto-me livre. Bastou olhar nos olhos para perceber que era uma certeza. A certeza do susto. A certeza da sorte. A certeza do bom fado. A certeza que fiz uma rasteira ao mau destino.
A partir daqui, tudo dará certo.
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