A sabedoria popular diz-nos que só sabemos algo da vida, quando passamos pela situação. E isto fez todo o sentido para mim, quando em Novembro, em pleno WebSummit, tive a oportunidade de estar cinco minutos com a Caitlyn Jenner. Já o tinha dito aqui que a admirava imenso mas nunca me passou pela cabeça que passado pouco mais de um ano ia estar face to face com a Cait e, muito menos, ter a exclusividade de conversar com ela.
Não tinha qualquer ideia do que era realmente a transexualidade até ao momento que acompanhei o programa I am Cait transmitido no E! Entertainment. E achei curioso, a coragem e a determinação com que Caitlyn lidou com o assunto.
Para quem não sabe, Caitlyn na vida passada (como ela gostou de referir) foi Bruce Jenner, gold medal em Decatlo, conhecida como a prova mais dura dos Jogos Olímpicos. Foi também aclamado nesse Verão de 1976, o melhor atleta do mundo nos Estados Unidos da América.
Quando lhe perguntei, qual o sucesso de Bruce no Desporto, com uma simpatia no rosto respondeu-me que o segredo estava em Caitlyn. “I’m confused” (estou confusa), disse eu. Soltamos umas gargalhadas, e depois deste “quebra gelo” que usei para que a conversa fosse mais informal e fluída, me respondeu que a sua dedicação ao desporto serviu para conseguir provar ao mundo a sua masculinidade:
“Usei sempre a personagem Bruce para me afirmar no desporto. Sentia que assim ninguém saberia o meu verdadeiro eu. Quando ganhei a medalha, foi o melhor e o pior dos meus dias enquanto Bruce. Sentia-me realizado enquanto homem/macho mas decepcionado porque ninguém sabia quem eu era realmente”.
“Eu soube sempre que era uma rapariga e uma mulher. Aliás, iniciei a minha transformação ainda nos anos 80. Tomei durante aproximadamente cinco anos estrogéneos, fiz uma operação ao nariz para o tornar mais fino e até fiz a remoção total da minha barba a laser.”
Mas, então porque não continuaste nesse processo, perguntei eu, descaradamente.
“Os meus filhos eram muito pequenos. Estavam num processo de formação da personalidade e não queria prejudicá-los na escola, nem na vida pessoal”.
E porquê agora?
“Não aguentava mais. Sabes o que é viveres com algo sufocado na tua garganta? Sabes o que é tentares ser honesta contigo própria e não conseguires? Os meus filhos já são grandes, já conseguem perceber e entender o que se passava comigo e isso deu-me tranquilidade.”
A pergunta estava na minha cabeça e estava com receio de a colocar, afinal de contas, não queria ser mal interpretada nem tão pouco ser insultuosa. Mas arrisquei e perguntei se alguma vez o pensou fazer por causa da popularidade que lhe trouxe. Sorriu e disse-me que jamais alguém no seu perfeito juízo se submetia a cirurgias, a tratamentos dolorosos e fisicamente desgastantes só por causa da fama. E que não necessitaria nunca da aprovação social, mas sim dela própria e da sua família. Contar a sua história, ser honesta consigo própria sobre quem é, é o que realmente importa para Cait.
“Não é uma questão física, ou de andar de saltos altos – que isso até prejudica o meu joelho – mas é uma questão de alma, entendes?”
Era a alma da Caitlyn que estava ali. Com os pés assentes nos seus pequenos saltos altos e estes, bem assentes no chão de Lisboa. O intuito desta mulher ao afirmar-se em 2015 era o mesmo que agora: definir-se enquanto ser humano e apoiar com a sua popularidade a comunidade LGBT. Por isso, criou uma plataforma para expor todos os problemas desta comunidade.
Apoiaste o Trump, afirmaste-te como conservadora. Isso prejudicou a tua relação com a comunidade LGBT?
“Mais uma vez, estava a ser igual a mim própria. Eu posso ser transsexual e ser conservadora. Porque não? Sei que o Partido Democrata é mais LGBT friendly mas eu realmente acredito no método de governação do partido Conservador.”
O tempo tinha terminado e a assistente foi bastante rígida com o tempo. Faltavam-me tantas perguntas para fazer, mas no final, continuando a sorrir e depois de um curto abraço sabia que teria que fazer algo com sentido para ainda dar mais sentido a isto.
Foi assim que me surgiu a ideia de criar, inventar e produzir aquilo que mais me deu gozo fazer: a minha linha de tshirts com mensagens ativistas. Amanhã, revelo todas as coleções que a compõem.
Stay tuned!
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