Estou sozinha sentada na minha cama ladeada por uma taça de frutos secos salgados e por uma caneca de coca-cola. Penso no quão duro foi o meu dia de hoje, com berros, birras, constantes limpezas de rabos e negociações para comer, dormir e para pararem de saltar em cima do sofá. Sinto que todo o meu esforço para ser boa mãe, respeitar a parentalidade “do bem”, de não berrar, de aceitar a individualidade de cada um, de mostrar alternativa ao mau comportamento, me está a sufocar o cérebro.Há 86 biliões de células nervosas no meu cérebro e no meio da maior parte desses pequenos neurónios há vazio. É nesse vazio (cientificamente designado sinapse), que a magia acontece: é aí que é transferida toda a informação, sem que esta se perca ou enfraqueça.
Eu tento, diariamente fazer um esforço para que os meus filhos sejam crianças felizes. Tento, diariamente, em proporcionar-lhes experiências diferentes mas, por vezes sinto-me cansada. Cansada de tentar ser perfeita em tudo. Tentar pensar em coisinhas e mais coisinhas para eles fazerem e, quando chega a hora da verdade, aquilo que eu preparei apenas dá para dois ou três minutos de sossego e concentração.
Os meus miúdos são como os outros: traquinas, barulhentos, exploradores, curiosos, birrentos.
Os meus miúdos são como os outros e chamaram-me hoje 54 vezes. Contei-as. Todas. Chamam-me porque querem por a televisão no Bombeiro Sam. Chamam-me porque querem que eu veja o desenho que fizeram. Chamam-me porque estou ao lado deles e estão com calor. Chamam-me porque querem que eu saia da casa de banho. Chamam-me porque querem que eu repreenda o outro irmão porque lhe bateu. Chamam-me só para me dizer olá. Chamam-me para dormir com eles.
E agora, eles foram embora. Estou sozinha e sinto saudades de cada uma das 54 vezes que eles me chamaram. Por vezes sinto culpa por não lhes ter prestado tanta atenção, outras vezes sinto que dei o melhor de mim. Esta reflexão permite que eu cresça enquanto mãe e aprenda sobre o que sou e os meus instintos.
Este tempo sozinha, que eu chamo de tempo sináptico, é como nos terminais dos neurónios: vazio de pessoas mas cheio de informação. É neste tempo que escrevo sobre mim e sobre o que sinto. É nesse tempo que tenho para mim, que tenho a certeza que todos somos substituíveis uns para os outros, mas nunca, nunca seremos substituíveis para nós próprios.
E hoje estou, mesmo, muito cansada.
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