Eu acredito que somos melhores pessoas na mesma proporção com a empatia que sentimos pelo outro. Em qualquer lugar, em qualquer situação e porque, vivemos em sociedade, temos de ser tolerantes, empáticos e ter, sobretudo, respeito pelos limites do outro.
A palavra consentimento, hoje muito apelada, e bem, deve derivar de com+sentimento. O que me leva a pensar que a empatia e o respeito pelo outro tem de estar em cima da mesa quando vamos tocar, mencionar, exprimir ou invadir o seu espaço pessoal.
Normalmente, e quem lida comigo sabe, que eu considero que todas as relações são como um diagrama de Venn de dois conjuntos, em que há um centro comum, a relação de ambos, ou o “NÓS” e em cada uma das pontas, há o outro e eu. Ou seja, para além do espaço comum e do meu próprio espaço, considero que o outro também tem o seu espaço próprio, os seus limites bem definidos e que terei de os aceitar e respeitar. Mas nem sempre isso acontece.
Vamos ver um caso simples, que muita gente vai achar patético, mas para mim tem todo o sentido:
O meu ginecologista (que é só o melhor médico do mundo), aquando da minha examinação periódica, antes de passar para a cadeira ginecológica, pergunta sempre: “Posso examiná-la, por favor?”. Isso infere que eu terei de lhe dizer sim, ou não e, dessa forma, proceder ao meu consentimento.
Durante o exame, vai dando dicas sobre os procedimentos que está a fazer e, quando possível diz, quando estiver preparada, vou fazer-lhe x, ou y.
No parto, para fazer o chamado toque para avaliar as dilatações, pedia para as pessoas desnecessárias saírem, inclusivé anestesista e enfermeira, e procedeu ao exame da forma mais tranquila. Sempre com o meu consentimento.
Disseram-me, em tom de gozo, quando apresentei este argumento num fórum, se também precisava do meu consentimento se tivesse um acidente ou uma paragem cardio-respiratória.
Claro que não. Em caso de emergência, os nossos limites são outros, nomeadamente tentar não morrer. Sou pelo respeito pelo o outro e a conservação da vida digna é prioridade para mim.
Com as crianças, devemos agir da mesma forma, perguntar se podemos despir a camisola, se podemos aplicar o creme, se podemos dar carícias. Se eles desde tenra idade souberem que é necessário um consentimento para que essas ações, num futuro próximo, teremos adultos conscienciosos e que respeitem a individualidade de cada um e seus limites.
Se por vezes é difícil? Sim, é. Se por vezes não pedimos consentimento? Sim, não pedimos. Mas devemos fazer um esforço.
Nenhum de nós gostava que os seus limites fossem ultrapassados.
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