O corpo humano é uma bomba biológica. Quando nascemos, a conjugação dos nossos genes começa o countdown para o fim. Os nossos maus hábitos, as fracas rotinas de sono, as opções menos saudáveis são como aqueles cortes nos fios errados que fazem com que o tempo corra mais rápido para a explosão.
Tenho a minha avó no hospital, a lutar contra uma estirpe de um vírus Influenza no seu débil corpo de 90 anos. Esse corpo que conjugado com as suas boas escolhas já sobreviveu a uma tuberculose, à escassez da segunda guerra mundial, à falência de um rim, a quatro partos e inúmeras gripes e viroses. O corpo dela, débil agora na velhice, não desiste e continua a lutar, hora após hora por uma recuperação.
É desta massa que são feitas as grandes mulheres: lutadoras, determinadas e mesmo na sua fragilidade encontram a forma de sair do problema.
Não sei se sairá daquele sombrio e lacrimoso hospital com vida humana, mas sairá sempre como a maior lição de sobrevivência e de resiliência que poderei ter. Tenho um orgulho imenso de ser neta desta mulher. De me ter dado colo e carinho, de me ter amparado nos meus piores momentos e sobretudo da nossa cumplicidade.
Mas sei, no meu íntimo, que ela não desistirá, conheço-a bem demais e sei que ela ainda não está pronta para partir. Ainda terá de consolar os três bisnetos que tem e sobretudo, passar a vida a reclamar comigo por não andar de brincos.
Hoje vou vê-la pela primeira vez ao hospital, levo um desenho dos miúdos, a “ameaça” de que terá de estar presente no meu aniversário em casa e a certeza que a D. Margarida é a mulher mais lutadora do mundo.
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