Caro (futuro) professor,
Não me conhece porque ainda nem sequer conheceu o meu filho. Mas sabe, ele vai ser um dos seus alunos mais desafiantes. Pergunta a cada segundo o porquê das coisas e preocupa-se demasiado com os outros. Ele tem necessidade de conhecimento e uma memória de elefante. É um pouco mais lento do que os outros a resolver alguns problemas, mas quando se aplica, resolve-os com excelência.
Mas sabe porque lhe estou a enviar esta carta? Porque o que eu mais quero é que ele seja feliz.
Não me importa se ele vai ter um futuro promissor nas letras ou que seja um grande neurocirurgião. Estou-me a borrifar se ele vai ser capaz de resolver a equação de Schrödinger ou ler 3 livros por noite como o Marcelo.
Quero é que ele seja criança enquanto pode ser criança. Quero que corra, que se suje de relva; que esteja constantemente com feridas nos joelhos por trepar às árvores ou por ter jogado à bola com os amigos.
Quero que ele aprenda a metamorfose da borboleta, observando.
Quero que ele aprenda de onde vem as avelãs, as castanhas e as nozes, observando.
Quero que ele queira aprender, e que ele chegue da escola, cansado por descobrir coisas novas e brincar, brincar muito.
Não quero obrigá-lo, em casa, a fazer os trabalhos que supostamente são para casa. Em casa, depois do dia atarefado, quero que ele relaxe, que brinque, que cozinhe comigo. Que aprenda que o bicarbonato de sódio com o vinagre faz um grande vulcão de espuma e que o fermento faz as coisas crescer.
Quero ter tempo para brincar com o meu filho sem que para isso, tenha de estar constantemente agarrada a um caderno a soletrar a tabuada ou a cantarolar sílabas.
Quero ser mãe e não explicadora ou professora, que esse é sem dúvida o seu trabalho e propósito, e não o meu.
Mas não leve esta carta a peito: o problema disto tudo não é seu porque é mesmo MEU.
Sabe, por vezes sou demasiado exigente com o que quero e não há nada deste mundo que eu queira mais do que a felicidade dos meus filhos.
Obrigada por estar aí, todos os dias a dar o melhor de si. Sei que também, lá no fundo, gostaria que a escola fosse assim, mas os programas são rígidos, há provas e exames para cumprir e sobretudo ainda há olhares de pais mais conservadores que querem que na escola se eduque a estar sentado a olhar para a frente e calado.
Obrigada por amparar o meu filho quando cai e chora. Ele não tem aí nem a mãe nem o pai e o professor é o colo que precisa quando cai e se magoa.
Obrigada essencialmente por perceber que ele precisa de ajuda e perder os cinco minutos do intervalo para lhe explicar novamente as coisas.
Sabe o melhor presente que irá ter? Saber que está a construir um ser humano, com sentimentos, lógica, emoções e intuição e não um robot programado para decorar e debitar.
Obrigada por isso e por tudo. Até para o ano!
Bea, a mãe do seu (futuro) aluno.
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