Fico frustrada quando neste dia vêm a público campanhas publicitárias nos órgãos de comunicação social, de partidos políticos e de grandes marcas infantis recheadas de imagens de crianças de raça/etnia negra, sem roupa e com escassez de comida. Fico mesmo enojada e até dentro de mim há aquela raiva que se apodera de forma quase animalesca e de certo modo com vontade de partir esta merda toda.
Não compreendo que vivendo em Portugal, um dos países mais pobres da Europa onde a escola é maioritariamente autoritária e castradora de pensamento, onde os recursos económicos e alimentares das famílias sejam contados até ao cêntimo e à migalha, onde há crianças que chegam à escola sem um pequeno-almoço equilibrado e variado e que quando chegam a casa, por vergonha do juízo social, os pais tenham apenas a sopa (quando a têm) para lhe dar, se fale em África, na Índia ou que tornem isto racial.
Acho de muito mau tom usarem as imagens dessas crianças, que passam constantemente pelo limiar da morte e as utilizem para proveito próprio ou para um marketing sujo, porco e imoral.
Onde está essa gente para apoiar com os fundos, com os micro-projetos (como o Atelier dos Pikis), para a irradicação da fome e para dar mais condições a essas crianças?
Podem achar que estou a ser injusta e radical, mas não aceito que se fale de igualdade no outro canto do mundo, quando bem perto de nós há uma desigualdade atroz: na educação, na igualdade de oportunidades, na fome, no carinho e sobretudo, na felicidade.
Nada paga o sorriso de uma criança.
Por isso, e por achar que hoje é um dia não só dedicado aos meus filhos, vou recolher alguns brinquedos e roupas que eles já não usam bem como comprar alguns brinquedos novos e roupas catitas para entregar numa instituição de acolhimento de crianças e jovens em risco. Assim é que faz sentido termos um dia da criança. Um dia solidário para com elas.
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