Que futuros adultos estamos a criar hoje?

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Que futuros adultos estamos a criar hoje?

O futuro – aquilo que apanha sempre o presente. Esta frase era-me dita por um dos meus professores preferidos, quase todos os dias. Eu fui uma afortunada pois quase todos os meus professores pensavam primeiro na matéria humana que tinham dentro de quatro paredes e só depois na matéria programática que um senhor engravatado de Lisboa teimava que todos soubéssemos com os mesmos timmings.

Detestava algumas disciplinas da escola, nomeadamente Francês e Educação Visual – e, talvez por consequência, eram as únicas que não tinha assim muito jeito.

A questão da escola, como falei aqui não é algo que me preocupe muito. Ou melhor, o excelente aproveitamento dos meus filhos, não é algo que me preocupe. Preocupa-me sim, a escola estar cada vez está mais desajustada à realidade atual das crianças. É uma escola inspirada no século XIX, com professores do séc XX para crianças do século XXI.

Vamos ser muito concretos e realistas –  gostaria que a escola oferecesse aos meus filhos as ferramentas essenciais para que eles sejam, no futuro, adultos mais capazes, mais autónomos, mais interventivos – porque para a vida prática, para que é que as crianças têm de saber o que é um icnofóssil ou que o Rei D. Pedro I morreu de epilepsia? NADA.

Mas então, o que mudavas?

Eu apostava na observação. Está provado cientificamente, que as crianças aprendem muito mais com o que experimentam do que com aquilo que lhes é debitado ou incutido. Eu não quero que o meu filho seja um robot, programado para decorar dezenas de páginas de um livro para a data do teste e depois, por necessidade, elimine aqueles dados para poder processar o do teste seguinte. Preferia que fosse ele, a desmontar o robot, a perceber como funciona e de seguida, montá-lo, errando milhares de vezes até conseguir o resultado final.

Observo muitas vezes as repreensões que os miúdos ouvem dos professores quando fazem algo mal – como se eles nascessem com uma super dotação de saber aquilo que ainda não aprenderam, ou perceber aquilo que não conseguem perceber.

Observo muitas vezes os encorajamentos de pais para que os filhos consultem a resolução das soluções, porque assim têm a certeza que o trabalho vai bem feito.

Ouço muitas vezes os professores, aqueles professores que adoram ensinar, a dizer que não têm tempo para dar tanta matéria e que vão saltar o programa porque aquela parte não era assim tão importante.

Ouço os alunos, ouço tanto os alunos, que no ensino básico estão fartos da escola e que no secundário desejavam ter estado mais tempo atentos, sobretudo nas aulas de matemática.

Ouço os alunos, a suplicar pelas aulas de educação física, que se tornou a preferida da maior parte.

E ouço o meu instinto de mãe, a pedir a mudança que aqueles alunos tanto querem e tanto precisam. A escola, está a tornar-se o centro de dia das crianças, com atividadezinhas e coisinhas para inglês ver – baseada na memória tenra de crianças que têm necessidade de explorar, brincar e construir.

Vamos esperar que o futuro apanhe o presente para mudar? Ou podemos fazer do nosso presente, um futuro melhor para os nossos filhos?

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