Ontem fui à escolinha dos meninos contar uma história. Por norma, costumo todos os anos fazer uma atividade em coordenação com a educadora para que o meu filho sinta que a mãe estará sempre presente nos momentos que ele precisa.
O ano passado decidi levar algumas experiências científicas simples e este ano decidi levar uma história. Só tive um pedido da educadora: Que a história começasse por P, uma vez que estão a “descobrir” a letra P na sala.
Fui à livraria e decidi escolher o livro: “Pedro é um super-heroi”. Claro que escolhi este porque como o miúdo se chama Pedro tinha todo o sentido e até porque era um dos poucos livros da coleção “Pedro” que ainda não tinha. Comuniquei à educadora e guardei o livro na mala.
À noite, depois do banho e de deitar os miúdos, decidi pegar no livro para dar uma vista de olhos para não ir às cegas para a leitura. Tudo começa bem até que me deparo com a frase:
– As raparigas têm medo de tudo. A minha mãe também é uma rapariga, é por isso que está com medo!
– Vamos salvá-la! Somos super-heróis! – responde o João!
Senti-me tão triste. Tão magoada por aquelas duas frases estarem a preto naquelas folhas brancas de um livro infantil com um desenho lindo. Senti-me tão parva por ter comprado um livro destes. Decidi, então, com um marcador preto rasurar estas frases e omitir na leitura. Não se alterou nenhum sentido ao texto, nenhum sentido à moral ou intenção da história.
As crianças, devem aprender que as meninas não precisam de ser salvas. Nem precisam que os meninos sejam príncipes encantados que derrotam dragões.
Apenas precisam de saber que precisam delas próprias: conscientes, livres, autónomas, guerreiras e felizes. E que eles, eles são sempre fortes e destemidos mesmo sabendo que não tem ninguém para salvar, além deles próprios.
E, caros leitores, as mulheres só tem medo de uma coisa: de pensamentos retrógrados como este.
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