Vamos falar de privilégio.

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Vamos falar de privilégio.

Este artigo é especialmente para ti se preenches estas características: Raça caucasiana; Cis género; Heterossexual e Homem.

Olá pessoa mais privilegiada do planeta Terra!

Como vão as coisas aí em cima, nesse maravilhoso pedestal de privilégio?! Boas, não é?! Acredito que sim…

Ora, depois de leres estas palavras com certeza alguns pensamentos já te passaram pela cabeça:

“Mas eu não sou privilegiado, trabalho muito para conseguir o que tenho.”
“Todos podem ter as mesmas oportunidades, afinal vivemos numa democracia”
“Venho de famílias humildes, e nada me foi dado de bandeja”
“Agora é tudo muito sensível e já não posso dizer as coisas que dizia antes”
“Deves ser uma “feminazi”, e queres destruir a minha masculinidade”
“Isso do racismo é coisa do passado”
“Os gays andam a tomar conta do Mundo.”

“Mas eu não sou privilegiado, trabalho muito para conseguir o que tenho.”

Meu caro, sei que trabalhas muito. Sei que todos os dias te preocupas com a tua família e o pão que tens de colocar na mesa. Sei que batalhas para que todos à tua volta estejam bem. E quero que saibas que reconheço isso. E não, a vida não está fácil para ninguém. A vida é apenas mais difícil se fores POC ou LGBTQ por exemplo. Porque enquanto tu vais ser avaliado pelas tuas capacidades, alguém LGBTQ vai ser avaliado por o quão Queer é. E o quão ser muito queer ou pouco pode afetar uma empresa. Ou seja, enquanto tu és avaliado pelo teu trabalho, alguém gay é avaliado por algo que é desde que nasceu e do qual não tem controle nem deve ter.

“Todos podem ter as mesmas oportunidades, afinal vivemos numa democracia”

Portugal está sem dúvida a melhorar em diversos aspetos sociais. Vivemos no terceiro país mais seguro do Mundo!! Contudo, ainda hoje mulheres que fazem o mesmo trabalho que os seus companheiros homens, ganham menos. E não, não é porque são mais incompetentes ou porque trabalham menos horas. É apenas porque ainda vivemos num mundo que privilegia o género “masculino” em toda a sua tradicionalidade. Mas tu tens nas tuas mãos a possibilidade de ajudar as tuas colegas. Quando estiveres hoje no trabalho partilha com as mulheres à tua volta, o quanto ganhas de remuneração. Isso vai-lhes dar um termo de comparação para saber se estão a ser remuneradas como deviam.

“Venho de famílias humildes, e nada me foi dado de bandeja”

Sei que “trabalhas no duro” para teres tudo o que tens hoje. Sei que estudaste muito, e trabalhas ainda mais. E os POC também. Mas apenas pela cor da sua pele, existem pessoas que trabalharam tanto ou mais do que tu e mesmo assim não conseguem ter as mesmas oportunidades. Queres um exemplo?! Vê o que acontece nos USA a miúdos (sim, miúdos) POC, que andam na rua com um simples telemóvel. Têm sido alvejados pela polícia pelo simples facto de existirem com a cor de pele com que nasceram. As estatísticas são assustadoras. Tu podes marcar a diferença. Sempre que um amigo teu disser uma piada racista, não te cales, defende e dá a mão a quem só quer existir exatamente como foi criado neste mundo.

“Agora é tudo muito sensível e já não posso dizer as coisas que dizia antes”

Não conheço pessoa mais sensível do que um homem caucasiano, hetero, cis. Sempre que respondo a uma “piadinha” com a minha forma empoderada de ser, esse tal homem amua e fica muito ofendido. Gostas de fazer piadas sobre gays?! Sobre prostitutas?! Então vais levar resposta. Ficas a queixar-te e a bater o pé porque já não podes falar sem ter alguém a defender as minorias? Então analisa quem é muito sensível, porque claramente as minorias para sobreviverem neste mundo têm de ter um poder de encaixe muito grande. “Quem vai á guerra, dá é leva”!

“Deves ser uma “feminazi”, e queres destruir a minha masculinidade”

Quero que sejas o mais feliz possível neste mundo. Quero até que sejas meu aliado, e que caminhes neste mundo de mão dada comigo. E para isso preciso que me ouças. Não da forma que tu queres que fale mas da forma que eu quero-me expressar ao mundo. Porquê?! Porque eu tenho o direito de o fazer se a minha liberdade não retirar pedaço à liberdade do outro. Sim, sou caucasiana, e por isso também tenho acesso a muito privilégio. Por isso, tive de aprender a ouvir as minorias. Ás vezes doí saber o quanto o meu espaço neste mundo roubou espaço a outros apenas por serem diferentes de mim. E ás vezes as minorias vão ser “insultuosas” e “ofendem” os privilegiados. Contudo, não acho que as minorias devem ter o meu respeito porque me insultam ou não. Devem ter o meu respeito porque todo o ser humano merece ter o seu espaço seguro neste planeta. E não dependem de ser mais simpáticos ou menos comigo para que reconheça os seus direitos básicos.

“Isso do racismo é coisa do passado”

Quem deve dizer esta afirmação são os POC. Não tu que nunca sentiste na pele o que é ser olhado de alto abaixo numa loja porque simplesmente tens uma cor de pele diferente do “branco”. Todos os dias POC têm de se assumir e marcar posição para poderem estar nos seus trabalhos, nas suas casas, em espaços públicos,… Basta ler os comentários do Facebook de notícias ligadas a POC, e ver a quantidade de insultos racistas que existem por aí. É vergonhoso, e não há outra palavra para descrever este comportamento… Defende os teus irmãos, sejam eles de que cor forem.

“Os gays andam a tomar conta do Mundo.”

A comunidade LGBTQ está apenas a tomar o seu devido lugar no mundo. Sim, porque “os gays” existem desde que existem seres humanos. Não é agora que os LGBTQ decidiram aparecer. O facto é que o mundo está a tornar-se um pouco mais seguro, e estas minorias começam a ampliar mais e mais a sua voz. És hetero?! Ótimo, apenas aceita que ser hetero é apenas uma das possíveis orientações sexuais. Ninguém te obriga a ter “gay sex”. Por isso deixa de opinar sobre o que os outros fazem com quem amam nos lençóis e não só. Além de ser estranho é uma imensa invasão de privacidade.

Então, levaste um pequeno abanão com este texto?! Ótimo, respira fundo, olha no espelho e analisa o porquê de estares a “bufar pelas ventas”. Pode ser o teu privilégio a bater-te à porta.

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