Quando olho para o espelho, sinto muitas vezes medo. Não da velhice, que ainda não me preocupo com essas coisas, mas com o futuro do mundo que deixo para os meus filhos. Infelizmente, a minha preocupação não é o trabalho, não é a larga produção de robots mas sim, a massiva e impulsiva estupidificação humana. E esta semana, foi recheada de exemplos.
1. caso “beijinho à avó”
Daniel, professor universitário foi a um programa de televisão, em horário nobre, afirmar que é uma violência obrigar as crianças a beijar os avós. Foi enxovalhado, ridicularizado e humilhado nas redes sociais, usando a sua sexualidade, trabalho e investigação para um cobarde achincalhamento público.
Eu, como mãe, não podia deixar de concordar mais. Vamos focar-nos no essencial e naquilo que a ciência nos diz:
- devemos respeitar os limites e o corpo de cada individuo
Eu trato os meus filhos como seres individuais e diferentes dos outros todos. Temos DNA diferente e impressões digitais diferentes, por isso, as minhas crianças são livres nas suas ações embora isso não esteja linearmente relacionado com a sua capacidade social ou até com a sua boa educação. Os meus filhos, por norma, dizem obrigado quando recebem alguma coisa de outra pessoa, pois, aprenderam através do exemplo dos pais. Também sabem que se têm de vestir para sair à rua, porque vêem os outros a fazê-lo e, que, ninguém, à exceção da mãe e do pai têm o direito de ver ou tocar nas suas partes íntimas.
O contacto íntimo é uma coisa muito própria e nobre de cada individuo. E, se as crianças não se sentem confortáveis a partilhar esse contacto íntimo até com os avós, porque temos de as obrigar? Muitas vezes usando a arma da recompensa ou, até em casos mais graves, do suborno e castigo.
O consentimento, essa arma tão poderosa e negada tantas vezes às crianças, fazem-me pensar no meu próximo tema.
2. praxes
Novo ano académico, vários limites já se ultrapassaram. Não faço ideia nenhuma do que vai na cabeça de um jovem, que se sujeita a ser humilhado, a ser maltratado. São adultos, dizemos nós, que dão o seu consentimento para estarem presentes, para darem o corpo ao manifesto. Mas será que não há coação? Será que estes momentos que deviam ser lúdicos, integrativos na sociedade académica não estão a passar os limites? Vejamos os exemplos daquela Instituição Superior de Leiria que gozou com a tragédia do Meco. Isso não é passar o limite do razoável? Eu acho que sim.
Será que estes alunos, quando eram crianças, foram respeitados nos seus limites e vontades? Será que os praxistas sentem satisfação pelo caloiro estar vergado e subjugado a um suposto “poder”? Será que todos estes miúdos têm a noção real do impacto que estas atividades provoca nas suas personalidades?
São tudo questões às quais eu não sei responder. Para o que não tenho palavras é, também, o meu próximo tema;
3. paula bobone
Eu adoro, e falo mesmo a sério, a figura da Paula Bobone. É uma autêntica ativista. Ativista da linha, a de Cascais, mas é ativista na mesma, mesmo vestindo Gucci com Primark, tudo numa misturada que, só o eyeliner (ou browliner como queiram) ela tão bem sabe aplicar. Como também todos sabemos, a Paula dedica-se ao que a maioria de nós tem de saber 2 ou 3 vezes na vida – se tanto – protocolo e etiqueta. E, para espanto meu, lançou um livro novo… dedicado a quê? Educação Queque.
Da sua mirabolante explicação da palavra “queque” que remonta o século não-sei-quantos que a NOSSA Catarina de Bragança (fazer uma pausazinha para cantar o hino, tamanho orgulho português), levou o chá para terras de só-dona majestade, às regras do saber estar. Mas, se fosse até aqui, estava tudo bem. O problema é que este livro é para ensinar os bons costumes…. às crianças.
“Crie um filho 20 valores!” é a manchete do livro. Mas estamos nesse século não-sei-quantos, ou já estamos na era moderna? Os meus filhos, jantam em família, estão em família à vontade (não é à vontadinha). Não estou para lhes promover tutoriais de saber estar à mesa, enquanto faço uma mediação de uma disputa por um poweranger nem tão pouco de estar a obrigar as crianças a estarem caladas à hora de jantar, como nesse século da “NOSSA Catarina de Bragança”.
As pessoas ainda não perceberam que as crianças não são pequenos adultos. As crianças devem observar, explorar e brincar o máximo de tempo possível.
Confesso que o que mais me dava trabalho, para além de ir buscar o faqueiro ao armário e mandar limpar o serviço de copos, era ter de lavar tudo.
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