“sou um menino agitado”

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“sou um menino agitado”

Era terça-Feira pelas cinco e trinta e cinco e chegaste a nossa casa um pouco aborrecido. Pedi para me ajudares a encontrar a chave do carro para irmos aos correios que fechavam às seis.
Sem resmungar, encontras as chaves e disseste-me com um sorriso rasgado: “estás a ver mãe, sou mesmo bom a encontrar as tuas coisas perdidas”. E és Realmente, és bom a encontrar coisas, como o teu irmão escondido na porta do armário ou até os comandos da consola que eu “arrumo” para não os veres.

Dentro do carro, colocaste o cinto de segurança sentado na tua cadeira e disseste que estavas pronto a sair, arrancámos e contaste o teu dia, que tinhas brincado com o Duarte e com o Joni, que adoravas participar no xadrez e que talvez um dia irias ser um senhor que faz muitas contas.

Chegamos ao shopping e mais uma vez pedi-te ajuda para encontrar lugar. Faltavam apenas 7 minutos para fecharem os correios e tínhamos uma encomenda urgente a levantar. Encontraste novamente a solução para o meu problema e estacionámos o carro.

Pedi para me ajudares a correr o máximo que conseguias pelos corredores luminosos do centro comercial e qual é a criança que recusa uma boa corrida?

Correste tanto, mas tanto que me faltou o fôlego e chegamos à hora certa ao guiché de levantamento das encomendas. Sorri para ti e tu com os teus dentinhos pequenino, devolveste um sincero sorriso.

Com a encomenda na mão, baixei-me e dei-te um beijinho na tua face rosada e disse obrigada. Respondeste:

“De nada mãe. Sabes, faz-me bem correr, sou um menino agitado”

Não sei se a minha expressão facial acompanhou a minha estupefacção cerebral. Não queria que construísses rótulos tão cedo na tua vida. Muito menos derivados de algum comentário de um adulto. Porque sejamos honestos um com o outro, tu não tiravas isso da tua cabeça em tão tenra idade.

Certamente, que por vezes, estás aborrecido e por isso, não páras quieto. Tenho a certeza que não consegues estar sentado trinta minutos quietinho, mas isso não faz de ti o “Pedro, o agitado”.

Não és perfeito. Não julgues isso. E mesmo sendo eu a pessoa que mais te ama em todo o mundo sei bem que também tens os teus defeitos. Mas também, nessa qualidade de fé incondicional, sei que és muito mais do que “o agitado” .

Sabes, para mim, és o “sorridente”, o “determinado”, o “curioso”, o “matemático”, “o sensível”, “o sonhador”, entre tantas outras coisas boas que residem em ti.

Não te simplifiques assim. Não deixes que te reduzam a alma e o ser. Não deixes que te manchem a auto-estima. Não deixes que te julguem por algum comportamento desadequado que tenhas, sobretudo em criança. E não te esqueças. nunca, que os grandes Homens são, foram e serão os agitados da vida, pois são eles que conduzem às grandes revoluções do saber. E, se um dia, te voltarem a dizer que és agitado, sorri.

Sais, orgulhosamente, à tua mãe.

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