Baleia azul: como estamos a criar a nova geração?

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Baleia azul: como estamos a criar a nova geração?
Eu já tinha visto as pessoas no Facebook a revoltarem-se contra os criadores do jogo mais estúpido e sádico à face da Terra, mas como a baleia ainda morava no continente americano, sobretudo no Brasil, não se sabia grande coisa.
Hoje a história foi diferente. Ao que parece, uma adolescente no Algarve decidiu experimentar a adrenalina do jogo.
Mas afinal em que consiste o jogo? Eu vou fazer um resumo básico para quem nunca ouviu falar sobre o tema.

O “jogo” é constituído por 50 desafios em que o 5oº é o suicídio. Entre eles, estão mutilações, saltar de viadutos (foi o que a miúda do Algarve fez), assistir a vídeos de terror as 4h20, desenhar baleias com navalhas nos braços and so on, and so on. Tudo isto acompanhado pela supervisão de um “curador” (acho que é assim).

Sinceramente, não vejo qualquer propósito para uma diversão destas, mas, depois de analisar os jovens que me rodeiam consigo imaginar o porquê de ponderarem aceitar este tipo de insanidades mentais. Hoje em dia, ao contrário do que muitas vezes se pensa, os jovens estão cada vez mais com menos liberdade, controlados e manipulados por uma série de condicionantes desde a primeira infância.

Hoje em dia, as crianças crescem sem qualquer tipo de responsabilidade – nem a deles próprios: não têm obrigação de contribuir com as pequenas tarefas do dia-a-dia, como preparar a mochila, auxiliar os pais na arrumação e limpeza da casa, não ficam em casa sozinhos (lembro-me bem que no 5º ano da escola ficava em casa sozinha e isso fazia sentir-me grande! – hoje, contam-se pelos dedos os miúdos que o fazem isso após a escola). E, sobretudo, não sabem distinguir o que é certo e errado, fruto de uma educação que lhes facilita o trabalho. Como não sabem fazer por eles, não conseguem mais tarde aplicar na adolescência e vida adulta. É em criança que se constrói as bases para se edificar o nosso eu e os principais ensinamentos para o respeito por si próprio e pelo outro.

Para além de crescer sem esse carácter de dever, as crianças e jovens estão muito, mas mesmo muito tempo na escola. Chegam ao cúmulo de ter aulas das 8h30 às 18h30 (com uma hora de almoço) – que é bem mais do que o horário de trabalho estipulado pela lei. Ou seja, resta pouco tempo para desenvolverem atividades cognitivas igualmente importantes – a lógica, a imaginação, o pensamento arbitrário e sobretudo a empatia. Como poderemos nós exigir que uma criança crie sentimentos pelo outro e por ele próprio se passa todo dia enjaulada? Depois destas horas todas, ainda há pais que os sobrecarregam com atividades extra-escola. Porque uma não chega: a criança precisa de saber futebol, dança, karaté, ténis e violino para ser realizada no mundo.
O crescimento, hoje em dia, sem essa capacidade de dever e de liberdade e sobretudo controlador não dá aos jovens oportunidade de criarem, inventarem e sobretudo de errarem. É tão, mas tão importante errar! O maior erro que podemos cometer enquanto cuidadores, na minha perspetiva, é privarmos os nossos filhos de errar. Deixem-nos fazer, experimentar, criar, construir, brincar, imaginar, inventar, reciclar, reusar!
Se não desconstruirmos a forma como temos feito as coisas até agora, nunca mais conseguimos ter jovens com auto-estima, com auto-conhecimento e sobretudo com empatia.
Nesta semana onde se comemorou a liberdade, deixemos os nossos filhos, maridos, mulheres, companheiros, amigos, amigas, serem genuinamente livres. E fazerem sobretudo o que mais os faz feliz.
[deixo um testemunho de uma adolescente brasileira sobre o assunto]

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