És mãe? Então não tens lugar para ti.

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És mãe? Então não tens lugar para ti.

Não estou nem estava à procura de emprego mas, certo dia, vi um anúncio que encaixava no meu perfil de candidatura. “Porquê que não posso arriscar?”, pensei eu e sem grandes preocupações: afinal eu não estava à procura de emprego nem aspirava desistir da minha vida nómada.

Adoro a minha (quase total) liberdade horária que o meu trabalho me dá: sim, é um trabalho e não um emprego, mas, hoje em dia, quem se pode gabar que tem um emprego, daqueles das 9h as 17h, com ordenados chorudos e sem grandes preocupações? Pois, nem o Presidente Marcelo.

Peguei no anuncio e redigi o e-mail anexando o meu CV. Falei com outro amigo, que achava que se enquadrava no perfil e ele, também se candidatou. Nunca mais pensei no assunto porque não estava realmente muito interessada no posto de trabalho: candidatei-me apenas por descargo de consciência. Passado umas semanas, o meu amigo recebe um e-mail de validação da candidatura com marcação de entrevista. E aquilo não me saía da cabeça. Como é que ele, com menos experiência laboral no ramo, com menos qualificações que eu e a viver a mais de 60 km consegue uma entrevista e eu não?

Comecei a matutar em tudo o que tenho conversado com a Carina, que é mais experiente nas questões laborais que eu, e pensei que tudo poderia estar mal com o meu CV – mas não. De repente, lembrei-me de uma coisa que tantas vezes ela me diz: “o mercado de trabalho ainda não está maturado para as famílias”. E a bem da verdade, decidi experimentar. Mudei o meu nome do CV (Coloquei o meu Primeiro nome próprio – Maria e outro apelido) e coloquei a morada dos meus pais em vez da minha. Alterei o meu e-mail para outro que já não usava com tanta frequência e retirei que tinha 2 filhos.

Enviei o mesmo e-mail, o “novo” curriculum (com o mesmo layout e tudo) e confiei no Universo.

Passadas 2 horas, tinha um pedido de entrevista no meu e-mail descontinuado. Não queria acreditar no que tinha acontecido.

Fui à entrevista à hora marcada: as minhas pernas tremiam tanto como num exame de Química Orgânica. Eu não queria nada daquele emprego, mas estava lá com a minha missão – obter respostas.

Entrei para uma sala despida, típica de uma sala de reuniões de pessoas cinzentas. Apresentei-me como Maria, apesar de não gostar nada de ser tratada assim. Apresentaram-me o que iria fazer, a minha remuneração base e até me apresentaram o meu “futuro” local de trabalho. No final, quase a perder a coragem de dizer o quer que seja perguntei: “Porque não entrevistam mães?”. A recrutadora e o diretor dos recursos humanos, ficaram sem perceber muito bem a pergunta e eu sem obter a minha tão ansiada resposta, apresentei os meus factos: os meus dois CV praticamente iguais, os meus e-mails, as minhas conclusões.

“Não queremos que a vida familiar impeça a vida profissional”.

Preferia que me tivessem batido do que me dirigissem essas palavras. O que é certo é que nesse momento, levantei-me e abandonei a sala. Deixei um cartão com o número do meu advogado e vou até às últimas consequências. Não é por mim, é por todas.

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