As coisas que envolvem comboios normalmente dão em duas coisas: teorias bonitas ou descarrilamentos; pelo menos, uma das formas mais usadas de explicar a Teoria da Relatividade de Albert Einstein envolve comboios. E eu, não querendo ficar atrás, acho que esta quarentena que vivemos pode ser explicada nessa mesma analogia.
O comboio – em que me incluo – são as pessoas com crianças em casa. São aquelas que estão em constante movimento rápido, na esperança de que que um segundo seja mais rápido do que ele mesmo, e que apesar de se manterem atualizadas (à velocidade da luz) nas redes sociais, não postam selfies há mais de um mês para que a sociedade não veja que não mudou de pijama nas duas últimas semanas.
O comboio partiu sem destino. Acolheu os seus passageiros e rumou com esperança que a viagem fosse curta. Mas enganou-se. A viagem está a ser longa, demorada, cansativa e esgotante. Sobretudo o comboio que tem de trabalhar para rumar a viagem. Aquele que começa o dia às 9h e se deita já depois das 3 da manhã, para assegurar refeições, divertimento a bordo e toda uma panóplia de cuidados com os seus passageiros. Por vezes o revisor (o outro adulto presente) também dificulta a viagem clicando várias vezes no botão de emergência.
O comboio, já no percurso da viagem, foi informado pelo Chefe da Estação (Governo), que claramente percebe pouco de gestão familiar e económica, que o comboio teria de disponibilizar aos seus passageiros material eletrónico de ponta – pelo menos com capacidade para suportar uma câmara de vídeo e umas 5 plataformas (zoom, teams, classroom, skype e office) – para que os passageiros tenham uma espécie de escola-fachada e que aprendam a digitar como um hacker a aceder aos servidores da EDP.
Com os recursos financeiros limitados, o comboio arranja esses equipamentos, ficando adiada aquela viagem de verão programada, mas que vale o investimento, para que os passageiros não sintam que estão a viajar em segunda em relação à concorrência.
Com algumas falhas pelo caminho, o comboio continua a alta velocidade, sem parar, dia e noite (sim, alguns passageiros ainda fazem xixi durante a noite) enquanto o Universo o vê passar.
Claramente quando o Universo o vê, apenas vê que vai a alta velocidade, sem parar. Mas não sabe, de todo, o que se passa dentro daquelas carruagens.
A relatividade do caos, neste caso é simples de explicar. O comboio aproxima-se daquele ponto em que é consumido por tudo: pelos passageiros, pelos revisores, pelos carris, e que a única coisa que ainda escapa deste comboio negro é a luz.
A luz da esperança que quando isto acabar, continuará a viagem rumo à Estação certa.
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