Eu não estou grávida.

Eu não estou grávida.

Hoje nasceria o nosso filho.

Aquele que ouvimos o coração bater às 7 semanas e aquele que umas semanas depois era um ser inanimado que tive de o extrair da cavidade uterina.

Valeu-me como sempre o meu Prof. Henrique que com a sua humanidade, respeitou o meu tempo para assimilar a notícia, me explicou o procedimento e a sua presença constante, mesmo na dor. A Alexandra, que curiosamente a reconheci, também me tratou com dignidade e deu-me força. Também ela tinha passado pela dor da perda no ventre e manteve a esperança de uma nova oportunidade.

Incrivelmente, hoje faz também um mês em que o meu ventre estava a preparar-se para uma nova vida – desta vez presenteada por uma gravidez ectópica, com uma trompa de falópio rebentada e com algum sangue na cavidade abdominal.

Seguiu-se um teste ao COVID, uma laparoscopia, uma recuperação chata, um quarto partilhado com outra mãe que perdeu o bebé (um beijinho Maria José) e mais outra com o bebé na unidade neonatal – que até me senti útil em ajudar na extração do leite materno.

Passado uma semana fui tirar os pontos, um ponto infetado, uma nova sutura e muita paciência, resiliência e esperança.

Dizem-me, constantemente, para não expor demasiado a minha vida, que há coisas privadas e coisas públicas. E sim, há coisas privadas e coisas públicas. Mas não aguento mais que me perguntem se estou grávida baseado na minha barriga “crescida”.

Eu não estou grávida.

Estou em puerpério de duas interrupções de gravidezes desejadas. Estou em luto por aquilo que perdemos e estou com esperança no futuro. Com ou sem bebés.

Porque se há coisa que eu sei é que o amor, o verdadeiro, é incondicional ao corpo, à condição económica e à parentalidade: é vivido todos os dias com intensidade, com resiliência e respeito.

Quanto à minha flacidez abdominal, diziam-me há dias que o meu corpo, nomeadamente tudo o que está por debaixo da minha barriga, tem sido “violentamente agredido” nos últimos meses.

E sim, tudo em mim foi remexido mas há uma coisa que não me tiraram: a esperança.

Obrigada à equipa da CUF Porto e do Hospital de S João: foram em ambas as situações espetaculares comigo. Um beijinho muito especial ao MEU médico que me atende a qualquer hora, que solta as melhores gargalhadas e que sempre que eu preciso é o primeiro que eu vejo quando acordo.

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