Percorro, todos os dias, os feed das redes sociais e não há dia que não esbarre num anúncio, promoção ou mostruário de um produto “Montessori”.
De certo, porém, que o meu algoritmo pode estar de certa forma influenciado pelas minhas escolhas e pesquisas mas o que é certo é que já na altura da maior procura por brinquedos e material infantil – o Natal – algumas grandes superfícies já utilizaram o termo para vender a metro mobiliário “amigo das crianças” e brinquedos de madeira.
Maria Montessori atualmente é invocada apenas como um golpe de marketing, desprovido de moral, de consequências, apelando ao consumo impulsivo que em nada reflete aquilo que a própria defendia.
Montessori não é uma pedagogia que se aprende em atividades e brinquedos bonitos para as crianças. Montessori é um método científico, uma filosofia de vida que vai muito para além disso.
Não obstante desse facto, qualquer tentativa para simplificar a proposta da Dra. Montessori está naturalmente condenada ao fracasso.
Maria Montessori viveu desde o fim do séc. XIX, passando pelos períodos mais negros da História do séc. XX, visitando vários países e continentes para demonstrar que a sua Pedagogia Científica se poderia implementar em qualquer escola, país, continente e cultura pois esta é adaptada a cada criança, tendo por base que a criança tem um potencial intrínseco arrebatador.
Montessori é sem dúvida a melhor opção para educar crianças criativas, conscientes, autónomas e independentes mas não pode ser a todo o custo. É necessária formação, informação, leitura e muita transformação interior. Os adultos, como sociedade, devem acautelar os verdadeiros interesses das crianças e adolescentes para que estes se conectem com o mundo em redor através da natureza, das relações sociais e, claro, do amor pela vida.
É neste amor pela vida que entra o método Montessori, é neste amor, neste vínculo tão intrínseco pelo mundo que Montessori se faz e se pratica. É nesta urgência de reconectar as relações parentais, educacionais e sociais.
Por isso, da próxima vez que vir um anúncio de um brinquedo, de uma estante ou de algo que tenha o nome da grande pedagoga Maria Montessori, questione-se.
Pergunte se realmente precisa daquele objeto para a criança, se é simples e bonito e sem luzes a piscar. Pergunte-se se a criança consegue realizar o propósito do brinquedo sozinha e, sobretudo, se é produzido, embalado ou despachado sem recorrer à exploração de outras crianças que fingimos que não vemos o seu sofrimento.
Montessori é pedagogia, o método pela paz, pela cooperação, pela honestidade, pela aceitação do erro, pela constante procura do nosso propósito e, sobretudo, pela conexão com o Mundo.
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