Hoje numa conversa de whatsapp com umas amigas falámos sobre a recente experiência de um jantar em família num restaurante.
Essa minha amiga tem dois filhos, uma deles uma criança – de dois anos – que nunca tinha vivenciado essa experiência e que a recente odisseia de mudança de casa potenciou a ida a um restaurante mais “formal” para celebrar a ocasião.
Ela descreveu-nos que as pessoas que a rodeavam no restaurante ficaram impressionadas com o facto de as crianças, apesar das chamadas de atenção naturais para o ambiente que as rodeia, foram capazes de jantar em família sem os “gadgets”.
Engraçado, que naquele grupo, coincidentemente ou não, todas as quatro tivemos em alguns momentos em confraternização social esse género de comentários.
Mas será que a filosofia de vida que quisemos para as nossas famílias influencia essa característica? Há alguma perspectiva Montessori sobre crianças e os ecrãs?
Sinceramente eu não sei responder. Sei que Maria Montessori escreveu MUITO sobre como as crianças processam fantasia e a realidade. Montessori acreditava fundamentalmente que a imaginação realmente começa a acontecer no segundo plano de desenvolvimento (a partir dos 6 anos até aos 12 anos).
E o que é isso de fantasia e imaginação? Refere-se à capacidade da criança se abstrair, de imaginar coisas que ainda não existem e de pesquisar como chegamos onde estamos hoje e o que pode eventualmente vir.
No primeiro plano (do nascimento aos 6 anos), isso significa que as crianças estão a aprender com seus sentidos sobre o que é REAL.
Como podem eles imaginar o que poderia ser sem primeiro saber o que realmente é?
Embora os smartphones, ecrãs e outros dispositivos como as consolas de jogos não existissem no tempo de Maria Montessori, podemos inferir que estas tecnologias não são feitas para o cérebro no primeiro plano de desenvolvimento e que, o seu uso deve ser limitado.
Na verdade, há mais do que um punhado de estudos sobre o assunto. Por exemplo, desde 2010 que a Academia Americana de Pediatria recomenda a evicção do uso de ecrãs em crianças com idade inferior a 24 meses. Após essa idade, a recomendação é limitada a menos de uma hora por dia de co-vigilância de alta qualidade – o que significa que não é baby-sitting, mas um tempo para criança e cuidador ficarem juntos a aprender sobre um conceito, por exemplo.
Alguns dos mesmos princípios que usamos para selecionar livros segundo Montessori, por exemplo, devem-se aplicar a estes tempos de co-vigilância. Animais e pessoas reais, como videochamadas com familiares ou um vídeo estilo documentário para demonstrar, por exemplo, os habitats naturais dos animais.
Um jogo que convida a criança a deslizar em formas geométricas ou a vestir animais não é baseado na realidade.
Esta elevada exposição de bebés e crianças pequenas foi agravada recentemente pela pandemia COVID‑19, devido ao confinamento social e ao teletrabalho. E há diversos estudos, nomeadamente de universidades portuguesas, que constatam riscos para desenvolvimento psicomotor das crianças pequenas decorrentes da utilização excessiva de ecrãs.
No segundo plano de desenvolvimento, a partir dos seis anos, a realidade já está bastante definida na mente racional das crianças e deve ser, na minha opinião, mais abrangente a utilização dos ecrãs, tentando optar por jogos que possam potenciar conhecimento, capacidades motoras ou até momentos divertidos em família.
Montessori acreditava que deveríamos dar a criança recursos para que esta se conseguisse adaptar à sociedade que vivemos, por isso, porque não introduzir, por exemplo, à programação ou robótica a partir dos seis anos? Estas novas ferramentas conseguem promover conceitos linguísticos e matemáticos muito importantes como, por exemplo, o conceito de volume e perspectiva.
O que acham desta minha reflexão?
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