A sexualidade da mulher na amamentação

Quando nascemos mães, muitas vezes surgem algumas alterações no nosso corpo, na maneira de pensarmos, mas também na nossa relação com os outros.

Por isso, em conjunto com a Rede Amamenta, decidimos fazer um pequeno inquérito anónimo a mulheres mães de filhos amamentados.

Este estudo teve como objetivo a apresentação de dados recolhidos em 2016, tendo como base a temática Amamentação e Sexualidade. Tornou-se quase imperativo obter estes dados sobre a temática da amamentação e o seu impacto na vida sexual da mãe, visto que à data os dados conhecidos (obtidos a partir de 3 respostas, e que figuravam na tese “A vivência da sexualidade do casal durante a Amamentação” de Nádia Grincho, Instituto Politécnico de Santarém) eram estatisticamente negligíveis. Estes novos dados são, então, representativos das respostas de 640 mães (a nossa amostra).

Podemos catalogar as respostas em três grupos: num primeiro grupo, temos perguntas que nos ajudam a caracterizar as mães que responderam ao questionário, tais como: “Qual a sua idade?”; “Qual o número de filhos?”; “Qual o número de filhos amamentados?”.

De seguida, abordamos a temática da amamentação, e que caracterizam exclusivamente a escolha anti-concecional da mulher. Deste grupo de questões, são representativas “Até que idade o bebé foi amamentado?”, “Qual o método contraceptivo que escolheu para o período da amamentação?”.

Por último, abordamos questões diretamente relacionadas com a sexualidade na amamentação, onde obtivemos também dados da relação da mãe com o seu/sua companheiro/a da altura. Como exemplo, temos as perguntas “A sua atitude durante uma relação sexual alterou-se por amamentar?”; “A atitude do seu/sua companheiro/a alterou-se durante uma relação sexual por amamentar?”.

Caracterização das mães

Começando com a caracterização das mulheres que responderam, temos que 88% das mulheres com filhos têm mais de 27 anos. Apenas 12% das respostas foram dadas por mulheres com menos de 27 anos. 

Para além disso, em média cada mulher tem 1.45 filhos (valor que de certa forma está concordante com os dados da PORDATA de 2016, nomeadamente com o Índice Sintético de Fecundidade que foi de 1.36). A maior parte das mulheres (cerca 65%) tem apenas um filho, e apenas 7% das mulheres tem 3 ou mais filhos.

É também clara a relação entre a idade das mulheres e o número de filhos que têm: são poucas as mulheres mais novas (18-26 anos) que têm mais de 2 filhos (barras laranjas e verdes), enquanto que à medida que a idade das mulheres aumenta, o número de filhos que têm também aumenta. Ainda assim, em todas as faixas etárias consideradas, as mulheres apenas com um filho (barra azul) são claramente as que estão em maior número.

Amamentação

Antes mesmo de passarmos à análise individual de cada pergunta, há um dado relevante a apresentar: das mulheres que responderam ao questionário, 94% disseram ter amamentado todos os seus filhos, o que mostra uma clara vontade das mulheres em querer amamentar.

O seu filho foi/é amamentado até que idade?

Neste ponto, um dado curioso salta à nossa vista: não há uma tendência clara de até que idade os bebés são amamentados. Vemos claramente que a maior parte das mulheres amamenta o seu filho por mais de 3 meses, mas nas restantes faixas etárias dos bebés a distribuição é aproximadamente uniforme (com um pequeno deslize nos 19-24 meses).

Até que idade amamentou em exclusivo (só leite materno)?

Contrariamente ao caso anterior, em que não tínhamos uma tendência clara, nesta questão vemos que a amamentação exclusivamente por leite materno (exclui água, chás, outros leites ou alimentos) é feita por 48% das mulheres até aos 5-6 meses. Nos restantes intervalos da idade do bebé, a distribuição é aproximadamente uniforme. 

Qual o método contraceptivo que escolheu para o período da amamentação?

Sendo uma pergunta com resposta aberta, vemos que foram vários os métodos contraceptivos usados (por vezes, mais do que um método foi usado pela mesma mulher). Ainda assim, o método mais usado foi a pílula da amamentação, tendo sido eleita por cerca de 56% das mulheres. O segundo mais usado foi o preservativo, tendo sido usado por 18.5% das mulheres. Todos os outros métodos, nomeadamente o DIU, o LAM/FAM e o implante, foram significativamente menos usados (tendo sido eleitos pelas mulheres entre os 4% e os 2% dos casos). De notar ainda que que 13% das mulheres não recorreu a qualquer método contraceptivo no período da amamentação. As restantes preferiram não responder.

Discutiu esse assunto com o seu/sua companheiro/a?

Ainda dentro dos métodos contraceptivos usados no período da amamentação, quase 70% das mulheres discutiu este assunto com os seus companheiros (não o tendo feito 30% das mulheres).

Conhece o LAM (método da amenorreia lactacional) e os critérios de aplicabilidade?

Falando em particular do LAM, mais de metade das mulheres (53%) não conhecia o método. Das restantes 47%, 29% das mulheres tanto conhecia o método como os seus critérios de aplicabilidade, enquanto que 18% das mulheres desconhecia a aplicabilidade do método apesar de o conhecer.

Amamentação e Sexualidade

Vamos agora passar à última parte da análise dos dados deste inquérito, onde vamos conseguir perceber não só a relação que a mulher tem consigo mesma durante a amamentação, mas também o papel (físico e emocional) que a amamentação pode ter na relação da mulher com o seu/sua companheiro/a.

Sente que a sua libido (desejo sexual) foi afetada pela amamentação ou pelo método contraceptivo que utiliza?

Não temos claramente uma tendência nesta questão, sendo as respostas muito equilibradas: 53% das mulheres respondeu que de facto sentiu a sua libido afetada, enquanto que 47% das mulheres disseram que a sua libido não sofreu alterações.

A sua atitude durante uma relação sexual alterou-se por amamentar?

De novo, as respostas entre “Sim’s” e “Não’s” são bastante equilibradas: cerca de 45% das mulheres sentiu uma alteração na sua relação sexual por amamentar, enquanto que 51% das mulheres não sentiu esta alteração. Temos ainda que 4% das mulheres reportaram em específico quais as diferenças que sentiram, nomeadamente: cansaço, diminuição da vontade sexual, e até mesmo a completa ausência de relações.

A atitude do seu/sua companheiro/a alterou-se durante uma relação sexual por amamentar?

Na resposta a esta pergunta há claramente uma tendência: quase 79% das mulheres não notaram qualquer alteração na atitude do companheiro durante a relação sexual devido à amamentação. 18.5% responderam que sentiram alteração na atitude do companheiro, e 2.5% reportaram algumas das diferenças que sentiram, nomeadamente: o menor à vontade na estimulação dos seios, uma redução ou até mesmo corte absoluto na atividade sexual.

Da sua perspetiva, sente que a mama deixou de ter um significado sexual por amamentar?

A esta questão, 56% das mulheres responderam que “Não”, enquanto que para 38% das mulheres a mama deixou de ter um significado sexual por amamentar. De novo, temos uma percentagem de 6% das mulheres que especificaram o que mudou na sua visão sexual das mamas ao amamentar:

  • para algumas, a mama deixou de ter um significado apenas sexual, tendo agora também como “missão” a amamentação;
  • outras relatam que, no início da amamentação, as mamas não eram de todo um ponto erógeno, sendo que foram “re-ganhando” o seu significado sexual com o passar do tempo;
  • algumas das mulheres relataram algum desconforto devido à extrema sensibilidade que sentiam nas mamas, e também pela possibilidade da ejaculação de leite durante o ato sexual.

Sente que, na perspetiva do seu/sua companheiro/a, a mama deixou de ter um significado sexual?

A resposta a esta questão é bastante clara: 80% das mulheres acha que a mama não deixou de ter um significado sexual para o seu companheiro. Já 16% acha que houve essa perda de significado sexual. Temos ainda uma opinião mais elaborada de 4% das mulheres acerca da mudança de significado que poderá ter existido para os seus companheiros:

  • para algumas, o significado sexual da mama para os companheiros alterou-se parcialmente, tendo com o tempo voltado a ser um ponto erógeno;
  • algumas outras sentem ainda que o seu companheiro está preocupado com a sensibilidade das mamas, o que o leva a evitar tocar-lhes;
  • temos ainda homens que sentem que as mamas estão diferentes, sentindo uma espécie de complexo por ter de partilhar essa zona do corpo da mulher com o(s) filho(s) das mesmas.  

Estes dados estão disponíveis para serem usados livremente por toda a comunidade. Para qualquer dúvida estarei ao dispor para vos esclarecer.

Podem também, a título de curiosidade, assistir à minha conversa com Vanessa Sanches da Amamenta Aveiro sobre esta temática!

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